CAPÍ TULO I
De Deus • Deus e o
infinito • Provas da existência de Deus • Atributos da Divindade • Panteísmo
DEUS E O INFINITO 1. Que é Deus? “Deus é a inteligência
suprema, causa primária de todas as coisas.”1 (Vide Nota Especial nº 1, da
Editora (FEB), à pág. 604.) 2. Que se deve entender por infinito? “O que não
tem começo nem fim: o desconhecido; tudo o que é desconhecido é infinito.” 1 O
texto colocado entre aspas, em seguida às perguntas, é a resposta que os
Espíritos deram. Para destacar as notas e explicações aditadas pelo autor,
quando haja possibilidade de serem confundidas com o texto da resposta,
empregou-se um outro tipo menor. Quando formam capítulos inteiros, sem ser
possível a confusão, o mesmo tipo usado para as perguntas e respostas foi o
empregado.
3. Poder-se-ia dizer que Deus é o infinito? “Definição
incompleta. Pobreza da linguagem humana, insuficiente para definir o que está
acima da linguagem dos homens.” Deus é infinito em suas perfeições, mas o
infinito é uma abstração. Dizer que Deus é o infinito é tomar o atributo de uma
coisa pela coisa mesma, é definir uma coisa que não está conhecida por uma
outra que não o está mais do que a primeira. PROVAS DA EXISTÊNCIA DE DEUS 4.
Onde se pode encontrar a prova da existência de Deus? “Num axioma que aplicais
às vossas ciências. Não há efeito sem causa. Procurai a causa de tudo o que não
é obra do homem e a vossa razão responderá.” Para crer-se em Deus, basta se
lance o olhar sobre as obras da Criação. O Universo existe, logo tem uma causa.
Duvidar da existência de Deus é negar que todo efeito tem uma causa e avançar
que o nada pôde fazer alguma coisa. 5. Que dedução se pode tirar do sentimento
instintivo, que todos os homens trazem em si, da existência de Deus? “A de que
Deus existe; pois, donde lhes viria esse sentimento, se não tivesse uma base? É
ainda uma conseqüência do princípio — não há efeito sem causa.” 6. O sentimento
íntimo que temos da existência de Deus não poderia ser fruto da educação,
resultado de idéias adquiridas? “Se assim fosse, por que existiria nos vossos
selvagens esse sentimento?”
Se o sentimento da existência de um ser supremo fosse tão-
-somente produto de um ensino, não seria universal e não existiria senão nos
que houvessem podido receber esse ensino, conforme se dá com as noções
científicas. 7. Poder-se-ia achar nas propriedades íntimas da matéria a causa
primária da formação das coisas? “Mas, então, qual seria a causa dessas
propriedades? É indispensável sempre uma causa primária.” Atribuir a formação
primária das coisas às propriedades íntimas da matéria seria tomar o efeito
pela causa, porquanto essas propriedades são, também elas, um efeito que há de
ter uma causa. 8. Que se deve pensar da opinião dos que atribuem a formação
primária a uma combinação fortuita da matéria, ou, por outra, ao acaso? “Outro
absurdo! Que homem de bom-senso pode considerar o acaso um ser inteligente? E,
demais, que é o acaso? Nada.” A harmonia existente no mecanismo do Universo
patenteia combinações e desígnios determinados e, por isso mesmo, revela um
poder inteligente. Atribuir a formação primária ao acaso é insensatez, pois que
o acaso é cego e não pode produzir os efeitos que a inteligência produz. Um
acaso inteligente já não seria acaso. 9. Em que é que, na causa primária, se
revela uma inteligência suprema e superior a todas as inteligências? “Tendes um
provérbio que diz: Pela obra se reconhece o autor. Pois bem! Vede a obra e
procurai o autor. O orgulho é que gera a incredulidade. O homem orgulhoso
nadaSe o sentimento da existência de um ser supremo fosse tão- -somente produto
de um ensino, não seria universal e não existiria senão nos que houvessem
podido receber esse ensino, conforme se dá com as noções científicas. 7.
Poder-se-ia achar nas propriedades íntimas da matéria a causa primária da
formação das coisas? “Mas, então, qual seria a causa dessas propriedades? É
indispensável sempre uma causa primária.” Atribuir a formação primária das
coisas às propriedades íntimas da matéria seria tomar o efeito pela causa,
porquanto essas propriedades são, também elas, um efeito que há de ter uma
causa. 8. Que se deve pensar da opinião dos que atribuem a formação primária a
uma combinação fortuita da matéria, ou, por outra, ao acaso? “Outro absurdo!
Que homem de bom-senso pode considerar o acaso um ser inteligente? E, demais,
que é o acaso? Nada.” A harmonia existente no mecanismo do Universo patenteia
combinações e desígnios determinados e, por isso mesmo, revela um poder
inteligente. Atribuir a formação primária ao acaso é insensatez, pois que o
acaso é cego e não pode produzir os efeitos que a inteligência produz. Um acaso
inteligente já não seria acaso. 9. Em que é que, na causa primária, se revela
uma inteligência suprema e superior a todas as inteligências? “Tendes um
provérbio que diz: Pela obra se reconhece o autor. Pois bem! Vede a obra e
procurai o autor. O orgulho é que gera a incredulidade. O homem orgulhoso
nadaadmite acima de si. Por isso é que ele se denomina a si mesmo de espírito
forte. Pobre ser, que um sopro de Deus pode abater!” Do poder de uma
inteligência se julga pelas suas obras. Não podendo nenhum ser humano criar o
que a Natureza produz, a causa primária é, conseguintemente, uma inteligência
superior à Humanidade. Quaisquer que sejam os prodígios que a inteligência
humana tenha operado, ela própria tem uma causa e, quanto maior for o que
opere, tanto maior há de ser a causa primária. Aquela inteligência superior é
que é a causa primária de todas as coisas, seja qual for o nome que lhe dêem.
ATRIBUTOS DA DIVINDADE 10. Pode o homem compreender a natureza íntima de Deus?
“Não; falta-lhe para isso o sentido.” 11. Será dado um dia ao homem compreender
o mistério da Divindade? “Quando não mais tiver o espírito obscurecido pela
matéria. Quando, pela sua perfeição, se houver aproximado de Deus, ele o verá e
compreenderá.” A inferioridade das faculdades do homem não lhe permite
compreender a natureza íntima de Deus. Na infância da Humanidade, o homem o
confunde muitas vezes com a criatura, cujas imperfeições lhe atribui; mas, à
medida que nele se desenvolve o senso moral, seu pensamento penetra melhor no
âmago das coisas; então, faz idéia mais justa da Divindade e, ainda que sempre
incompleta, mais conforme à sã razão. 12. Embora não possamos compreender a
natureza íntima de Deus, podemos formar idéia de algumas de suas perfeições? “De
algumas, sim. O homem as compreende melhor à proporção que se eleva acima da
matéria. Entrevê-as pelo pensamento.” 13. Quando dizemos que Deus é eterno,
infinito, imutável, imaterial, único, onipotente, soberanamente justo e bom,
temos idéia completa de seus atributos? “Do vosso ponto de vista, sim, porque
credes abranger tudo. Sabei, porém, que há coisas que estão acima da
inteligência do homem mais inteligente, as quais a vossa linguagem, restrita às
vossas idéias e sensações, não tem meios de exprimir. A razão, com efeito, vos
diz que Deus deve possuir em grau supremo essas perfeições, porquanto, se uma
lhe faltasse, ou não fosse infinita, já ele não seria superior a tudo, não
seria, por conseguinte, Deus. Para estar acima de todas as coisas, Deus tem que
se achar isento de qualquer vicissitude e de qualquer das imperfeições que a
imaginação possa conceber.” Deus é eterno. Se tivesse tido princípio, teria
saído do nada, ou, então, também teria sido criado, por um ser anterior. É
assim que, de degrau em degrau, remontamos ao infinito e à eternidade. É
imutável. Se estivesse sujeito a mudanças, as leis que regem o Universo nenhuma
estabilidade teriam. É imaterial. Quer isto dizer que a sua natureza difere de tudo
o que chamamos matéria. De outro modo, ele não seria imutável, porque estaria
sujeito às transformações da matéria. É único. Se muitos Deuses houvesse, não
haveria unidade de vistas, nem unidade de poder na ordenação do Universo. É
onipotente. Ele o é, porque é único. Se não dispusesse do soberano poder, algo
haveria mais poderoso ou tão poderoso quanto ele, que então não teria feito
todas as coisas. As que não houvesse feito seriam obra de outro Deus. “De
algumas, sim. O homem as compreende melhor à proporção que se eleva acima da
matéria. Entrevê-as pelo pensamento.” 13. Quando dizemos que Deus é eterno,
infinito, imutável, imaterial, único, onipotente, soberanamente justo e bom,
temos idéia completa de seus atributos? “Do vosso ponto de vista, sim, porque
credes abranger tudo. Sabei, porém, que há coisas que estão acima da
inteligência do homem mais inteligente, as quais a vossa linguagem, restrita às
vossas idéias e sensações, não tem meios de exprimir. A razão, com efeito, vos
diz que Deus deve possuir em grau supremo essas perfeições, porquanto, se uma
lhe faltasse, ou não fosse infinita, já ele não seria superior a tudo, não
seria, por conseguinte, Deus. Para estar acima de todas as coisas, Deus tem que
se achar isento de qualquer vicissitude e de qualquer das imperfeições que a
imaginação possa conceber.” Deus é eterno. Se tivesse tido princípio, teria
saído do nada, ou, então, também teria sido criado, por um ser anterior. É
assim que, de degrau em degrau, remontamos ao infinito e à eternidade. É imutável.
Se estivesse sujeito a mudanças, as leis que regem o Universo nenhuma
estabilidade teriam. É imaterial. Quer isto dizer que a sua natureza difere de
tudo o que chamamos matéria. De outro modo, ele não seria imutável, porque
estaria sujeito às transformações da matéria. É único. Se muitos Deuses
houvesse, não haveria unidade de vistas, nem unidade de poder na ordenação do
Universo. É onipotente. Ele o é, porque é único. Se não dispusesse do soberano
poder, algo haveria mais poderoso ou tão poderoso quanto ele, que então não
teria feito todas as coisas. As que não houvesse feito seriam obra de outro
Deus. 16. Pretendem os que professam esta doutrina achar nela a demonstração de
alguns dos atributos de Deus: Sendo infinitos os mundos, Deus é, por isso
mesmo, infinito; não havendo o vazio, ou o nada em parte alguma, Deus está por
toda parte; estando Deus em toda parte, pois que tudo é parte integrante de
Deus, ele dá a todos os fenômenos da Natureza uma razão de ser inteligente. Que
se pode opor a este raciocínio? “A razão. Refleti maduramente e não vos será
difícil reconhecer-lhe o absurdo.” Esta doutrina faz de Deus um ser material
que, embora dotado de suprema inteligência, seria em ponto grande o que somos
em ponto pequeno. Ora, transformando-se a matéria incessantemente, Deus, se
fosse assim, nenhuma estabilidade teria; achar-se-ia sujeito a todas as
vicissitudes, mesmo a todas as necessidades da Humanidade; faltar-lhe-ia um dos
atributos essenciais da Divindade: a imutabilidade. Não se podem aliar as
propriedades da matéria à idéia de Deus, sem que ele fique rebaixado ante a
nossa compreensão e não haverá sutilezas de sofismas que cheguem a resolver o
problema da sua natureza íntima. Não sabemos tudo o que ele é, mas sabemos o
que ele não pode deixar de ser e o sistema de que tratamos está em contradição
com as suas mais essenciais propriedades. Ele confunde o Criador com a
criatura, exatamente como o faria quem pretendesse que engenhosa máquina fosse
parte integrante do mecânico que a imaginou. A inteligência de Deus se revela
em suas obras como a de um pintor no seu quadro; mas, as obras de Deus não são
o próprio Deus, como o quadro não é o pintor que o concebeu e executou.
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