Fala-vos humilde companheira que
ainda sofre, depois de aflitiva tragédia no
suicídio, alguém que conhece de perto a
responsabilidade na queda a que se arrojou, infeliz.
O pensamento delituoso é assim como
um fruto apodrecido que colocamos na
casa de nossa mente.
[...]
Jovem caprichosa, contrariada em
meus impulsos afetivos, acariciei a ideia da
fuga, menoscabando todos os favores que
a Providência Divina me concedera à estrada primaveril.
Acalentei a ideia do suicídio com volúpia e,
com isso, por meio dela, fortaleci as ligações deploráveis com os desafetos de meu passado, que falavam mais alto no presente.
[...]
Refletia no suicídio com a expectação
de quem se encaminhava para uma porta
libertadora, tentando, inutilmente, fugir de
mim mesma.
E, nesse passo desacertado, todas as
cadeias do meu pretérito se reconstituíram,
religando-me às trevas interiores, até que
numa noite de supremo infortúnio empunhei a taça fatídica que me liquidaria a existência na carne.
[...]
[Na] penumbra do quarto, rostos sinistros se materializaram de leve e braços hirsutos me rodearam.
Vozes inesquecíveis e cavernosas infundiram-me estranho pavor, exclamando: “É
preciso beber”.
[...]
Senti-me desequilibrada e, embora sustentasse a consciência do meu gesto, sorvi,quase sem querer, a poção com que meu
corpo se rendeu ao sepulcro.
Em verdade, eu era obsidiada...
Sofria a perseguição de adversários, residentes na sombra, mas perseguição que
eu mesma sustentei com a minha desídia e
ociosidade mental.
[...]
Em razão disso, padeci, depois do túmulo, todas as humilhações que podem rebaixar a mulher indefesa...
Agora, que se me refazem as energias,
recebi a graça de acordar nos amigos encarnados a noção de ‘responsabilidade’ e
‘consciência’, no campo das imagens que
nós mesmos criamos e alimentamos [...]
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