Passaríamos de longe pela objeção que fazem alguns
cépticos, a propósito das faltas ortográficas que certos Espíritos cometem, se ela não oferecesse margem a uma observação essencial. A ortografia deles, cumpre dizê-lo, nemsempre é irreprochável; mas, grande escassez de razões seria
mister para se fazer disso objeto de crítica séria, dizendo
que, visto saberem tudo, os Espíritos devem saber ortografia. Poderíamos opor-lhes os múltiplos pecados desse gênero cometidos por mais de um sábio da Terra, o que, entretanto, em nada lhes diminui o mérito. Há, porém, no
fato, uma questão mais grave. Para os Espíritos, principalmente para os Espíritos superiores, a idéia é tudo, a forma
nada vale. Livres da matéria, a linguagem de que usam
entre si é rápida como o pensamento, porquanto são os
próprios pensamentos que se comunicam sem intermediário.
Muito pouco à vontade hão de eles se sentirem, quando
obrigados, para se comunicarem conosco, a utilizarem-se
das formas longas e embaraçosas da linguagem humana e
a lutarem com a insuficiência e a imperfeição dessa linguagem, para exprimirem todas as idéias. É o que eles próprios
declaram. Por isso mesmo, bastante curiosos são os meios
de que se servem com freqüência para obviarem a esse inconveniente. O mesmo se daria conosco, se houvéssemos
de exprimir-nos num idioma de vocábulos e fraseados mais
longos e de maior pobreza de expressões do que o de que
usamos. É o embaraço que experimenta o homem de gênio,
para quem constitui motivo de impaciência a lentidão da
sua pena sempre muito atrasada no lhe acompanhar o pensamento. Compreende-se, diante disto, que os Espíritos liguem pouca importância à puerilidade da ortografia, mormente quando se trata de ensino profundo e grave. Já não
é maravilhoso que se exprimam indiferentemente em todas
as línguas e que as entendam todas? Não se conclua daí,
todavia, que desconheçam a correção convencional da linguagem. Observam-na, quando necessário. Assim é, por
exemplo, que a poesia por eles ditada desafiaria quase sempre a crítica do mais meticuloso purista, a despeito da ignorância do médium.
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