O movimento dos objetos é um fato incontestável. A
questão está em saber se, nesse movimento, há ou não uma
manifestação inteligente e, em caso de afirmativa, qual a
origem dessa manifestação.
Não falamos do movimento inteligente de certos objetos, nem das comunicações verbais, nem das que o médium escreve diretamente. Este gênero de manifestações,
evidente para os que viram e aprofundaram o assunto, não
se mostra, à primeira vista, bastante independente da vontade, para firmar a convicção de um observador novato.
Não trataremos, portanto, senão da escrita obtida com o
auxílio de um objeto qualquer munido de um lápis, como
cesta, prancheta, etc. A maneira pela qual os dedos do
médium repousam sobre os objetos desafia, como atrás dissemos, a mais consumada destreza de sua parte no intervir, de qualquer modo, em o traçar das letras. Mas, admitamos que a alguém, dotado de maravilhosa habilidade, seja
isso possível e que esse alguém consiga iludir o olhar do
observador; como explicar a natureza das respostas, quando se apresentam fora do quadro das idéias e conhecimentos do médium? E note-se que não se trata de respostas
monossilábicas, porém, muitas vezes, de numerosas páginas escritas com admirável rapidez, quer espontaneamente, quer sobre determinado assunto. De sob os dedos do
médium menos versado em literatura, surgem de quando em quando poesias de impecáveis sublimidade e pureza,
que os melhores poetas humanos não se dedignariam de
subscrever. O que ainda torna mais estranhos esses fatos é
que ocorrem por toda parte e que os médiuns se multiplicam ao infinito. São eles reais ou não? Para esta pergunta
só temos uma resposta: vede e observai; não vos faltarão
ocasiões de fazê-lo; mas, sobretudo, observai repetidamente, por longo tempo e de acordo com as condições exigidas.
Que respondem a essa evidência os antagonistas? —
Sois vítimas do charlatanismo ou joguete de uma ilusão.
Diremos, primeiramente, que a palavra charlatanismo não
cabe onde não há proveito. Os charlatães não fazem grátis
o seu ofício. Seria, quando muito, uma mistificação. Mas,
por que singular coincidência esses mistificadores se achariam acordes, de um extremo a outro do mundo, para proceder do mesmo modo, produzir os mesmos efeitos e dar,
sobre os mesmos assuntos e em línguas diversas, respostas idênticas, senão quanto à forma, pelo menos quanto ao
sentido? Como compreender-se que pessoas austeras, honradas, instruídas se prestassem a tais manejos? E com que
fim? Como achar em crianças a paciência e a habilidade
necessárias a tais resultados? Porque, se os médiuns não
são instrumentos passivos, indispensáveis se lhes fazem
habilidade e conhecimentos incompatíveis com a idade
infantil e com certas posições sociais.
Dizem então que, se não há fraude, pode haver ilusão
de ambos os lados. Em boa lógica, a qualidade das testemunhas é de alguma importância. Ora, é aqui o caso de
perguntarmos se a Doutrina Espírita, que já conta milhões
de adeptos, só os recruta entre os ignorantes? Os fenômenos em que ela se baseia são tão extraordinários que concebemos a existência da dúvida. O que, porém, não podemos admitir é a pretensão de alguns incrédulos, a de terem
o monopólio do bom-senso e que, sem guardarem as conveniências e respeitarem o valor moral de seus adversários,
tachem, com desplante, de ineptos os que lhes não seguem
o parecer. Aos olhos de qualquer pessoa judiciosa, a opinião das que, esclarecidas, observaram durante muito tempo, estudaram e meditaram uma coisa, constituirá sempre,
quando não uma prova, uma presunção, no mínimo, a seu
favor, visto ter logrado prender a atenção de homens respeitáveis, que não tinham interesse algum em propagar erros
nem tempo a perder com futilidades.
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